24/08/2010

hoje eu queria sair
sair e derrubar as folhas secas das árvores
deslizar pelos corpos e por uma multidão
queria bater gelado
no rosto dos que correm - sem música
gostaria de causar um vendaval
daqueles bem rápidos
que não fazem mal

mas me disseram que um dia
por pelo menos um dia,
todos nós poderemos vir a ser funestos.
me deram a notícia escrita
num pedaço de cetim
que poderei virar o umbigo de um furacão
derrubarei postes e causarei catástrofes
- triste seria o meu fim

mas eu ainda vou carregar muitas sementes
e aproveitar o que ainda me há de cortês
ficar rarefeita
e perto daquele que ensina
porque quero sair das bocas junto das palavras
que formam
e informam
essa é minha verdadeira sina

devo aproveitar tudo pois um dia, bem o sei,
poderei parar no norte do mundo
e petrificarei
junto das águas
o que mesmo serei?

eu gostaria de descansar sobre as mãos do baleiro,
acompanhar o dia inteiro um bombeiro,
encher o tórax de quem dança,
repousar sobre os ombros de uma criança,
ou ficar espalhada pelo chão mesmo
esperando o peso incalculável de quem cai
porque se arrisca
à esmo

mas a missão de hoje é fácil
terei de surgir na sua janela
e te descobrir.
sou feita de ar,
e uma vez que não posso ser presa
permaneço
corro
e cresço
dentro de tudo.

o meu maior medo? me perder em meu devaneio
como acontece com a maioria
dos que me rodeiam.