"Dobrei a esquina do hotel, cansado e com sono. Caminhara o dia inteiro, tomando contato com a cidade..."
...mastigando estearato de sódio, aromatizado e colorido artificialmente, respirando CO2...observo o por-do-sol no céu furioso de São Paulo e as meninas na calçada da Av. Paulista. Pelos meu cálculos, já sustentaram não só meus pés, mas todo meu corpo uns seis quilometros de asfalto.
Meu lugar não é aqui - Penso. Eu sei.
Percebo o lixo que pertence as ruas e a pressa dos que passam amorfos a minha frente.
Procuro uma fagulha de sensatez nesses olhos, mas ninguém me permite a honra.
O tempo pode ser longo, mas disso eles não sabem, então fazem uns passos curtos e apressados, querendo chegar logo. Lá. Todos querem. Não há ninguém parado. É incrível.
Uma dança sem passos nem saltos, onde o que estiver parado, não é ser humano. Deve ser feito de plástico ou algum outro tipo de material. Porque os feitos de carne e osso correm.
Lembro de ter que voltar para o hotel, tenho de ir embora. Faço o mesmo caminho, tento encontrar diferentes outdoors. E consigo. Fácil demais.
Chegando no hotel, uma mulher grita do meu lado: "Eu perdi a minha bolsa!"
Automaticamente entro numa girândola faíscante.
- O que será que tinha naquela bolsa? - Me pergunto.
Cartões de crédito sem limites e alguns mil reais, ou uma carta que escreveu para sua mãe antes de partir, que não teve coragem de entregar?
Eu não sei. De qualquer forma, vou embora, com aquele gosto que a gente só sente nas tardes de segunda-feira. Onde as coisas não nascem nem morrem, apenas permanecem.
Apresso os passos, mas na minha pressa, somente espero.