30/11/2010

Eu tenho medo de pedras. Em uma região de Machu Picchu, é possível encontrar pedras que pesam toneladas encaixadas perfeitamente, umas sobre as outras. Tamanha perfeição que nada encaixa em seus encaixes. E então eu tenho que ir pro Peru, sentir o calor daquelas pedras no final do dia, me deitar sobre elas e esquecer. Esquecer que a partir delas foram feitas prisões medievais. Lascadas, eram armas na Era paleolítica. De açúcar, já valorizou o dote de princesas.
Mas então o meu problema não são as pedras, mas o que se pode fazer com elas. Pedra que fica 98% submersa, enganando navios. Iceberg que afundou o Titanic. Pedras que atrapalham as frequências cerebrais, que calcificam dentro dos corpos. Mar de mármore, onde nada flui e há a impossibilidade da navegação. Pedras que delas se fazem lápides. Mito da Caverna, uma espécie prisão particular. Pedra sobre pedra. Apedrejamento até a morte. Pedra no sapato, de uma proporção incalculável quando no seu encalço. Pedra Aristotélica, na qual devemos quebrá-la em dezenas de partes para colocarmos onde quisermos. Meu problema é com pedregulho, aquele peso absurdo impedindo a passagem, que desmorona casas, causa catástrofes, entope canais, não deixa a água passar. Pedras acabam com a fluidez das coisas. Pedrada, pedraria, pedra-pomes, pedrento, pedreiro, pedregulho, pedregoso, pedreira, pedra-sabão.
De pedra eu só gosto de gelo, das reluzentes e das minúsculas que formam a areia. Nada de blocos. Prefiro essas pequenininhas que invadem tudo. Invasões são interessantes.
Amor eu tenho pela vertigem provocada pelas alturas do penhasco - mas se da pedra o meu pé escorregar...
De reluzente, só os olhos.