30/11/2010

Eu amo perfumes. Principalmente aquele que não tem fórmula, onde cada um tem o seu, bem naquela parte entre a orelha e o pescoço. Perfume de cada parte do corpo, do dorso, da lateral do nariz, entre os dedos. Cheiro de manhã recém nascida, de dia ruim, de ir embora, de chuva que ta vindo. Perfume de pé de bebê, de massinha, de papel quente recém impresso. Eau de Toilette, almíscar, amadeirado. Cheiro de manjericão, de almoço sendo feito, de arroz queimado. Perfume de corpo que trabalhou o dia inteiro, de lençóis que precisam ser trocados. Cada cheiro tem a sua personalidade e o seu tom. E então dá pra imaginar um tipo de perfume para cada um, só de encarar as faces. Ou os pensamentos. Ou as escritas. Ou o imaginário.
Baudelaire rodeado por flores. Floral da cabeça aos pés. Mr. Catra exala vigor. Bukowski mergulhado em álcool. Chanel, Moss e Lispector, musas transpirantes de cigarro. Marilyn e o seu número 5. Napoleão lançando vitória por todos os poros. Amy Winehouse cheira a inflamação, edema e pus. Copacabana virou mictório. Mario Bros não toma banho. Fante vivia empoeirado, fazendo qualquer um que se aproximasse espirrar. Van Gogh teve várias fases. Luciana Gimenez borrifa gotinhas de vácuo pelo corpo. Alexandre Pires é chocolate ao leite. Henrique VIII e sua atmosfera fétida. Gisele tem o cheiro que ela quiser. Federação é derivação de feder? Ultimamente tem cheirado à merda. Não há perfume sintético que sobrepunha o fedor. Manson obscurece qualquer fantasia, o cheiro assusta. Benício del Toro eu gostaria de descobrir pessoalmente. Carla Bruni com certeza usa alguma substância florestal. Edward Scissorhands ainda que impregnado de ferro e couro, cheira à doçura. Audrey Hepburn é inclassificável. Perfume nunca sentido antes. Barbarella guarda a galáxia inteira sob a epiderme. Chico Buarque cheira a todas as mulheres do mundo. Narciso emana ego inflado, aquele odor que embrulha o estômago. Kahlo era doída. Devia ter um perfume de fechar os olhos e franzir a testa, de pesar os pulmões.
Não são todos que exalam o cheiro que pensam ter. Borrifadas de fragrâncias apenas complementam o engrandecimento ou as ruínas das pessoas.
Eu tenho medo de pedras. Em uma região de Machu Picchu, é possível encontrar pedras que pesam toneladas encaixadas perfeitamente, umas sobre as outras. Tamanha perfeição que nada encaixa em seus encaixes. E então eu tenho que ir pro Peru, sentir o calor daquelas pedras no final do dia, me deitar sobre elas e esquecer. Esquecer que a partir delas foram feitas prisões medievais. Lascadas, eram armas na Era paleolítica. De açúcar, já valorizou o dote de princesas.
Mas então o meu problema não são as pedras, mas o que se pode fazer com elas. Pedra que fica 98% submersa, enganando navios. Iceberg que afundou o Titanic. Pedras que atrapalham as frequências cerebrais, que calcificam dentro dos corpos. Mar de mármore, onde nada flui e há a impossibilidade da navegação. Pedras que delas se fazem lápides. Mito da Caverna, uma espécie prisão particular. Pedra sobre pedra. Apedrejamento até a morte. Pedra no sapato, de uma proporção incalculável quando no seu encalço. Pedra Aristotélica, na qual devemos quebrá-la em dezenas de partes para colocarmos onde quisermos. Meu problema é com pedregulho, aquele peso absurdo impedindo a passagem, que desmorona casas, causa catástrofes, entope canais, não deixa a água passar. Pedras acabam com a fluidez das coisas. Pedrada, pedraria, pedra-pomes, pedrento, pedreiro, pedregulho, pedregoso, pedreira, pedra-sabão.
De pedra eu só gosto de gelo, das reluzentes e das minúsculas que formam a areia. Nada de blocos. Prefiro essas pequenininhas que invadem tudo. Invasões são interessantes.
Amor eu tenho pela vertigem provocada pelas alturas do penhasco - mas se da pedra o meu pé escorregar...
De reluzente, só os olhos.


15/11/2010

Algo de estranho permeia o meu peito quando vejo algum objeto igual ao meu em mãos desconhecidas, capas de livros absolutamente íntimos em estantes alheias, perfumes que remetem a singulares situações fora de contexto, em outros corpos ou outros campos.
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Parece que o outro passou por algum corredor estreito ao meu lado, inspirando o mesmo oxigênio que eu e não percebi. Daí a sensação estranha de compartilhar um gosto e um pensamento similar, se não o mesmo. A estranheza sacode meus ombros e grita nos meus ouvidos que nós não estamos sozinhos.
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Ontem fui na casa da vizinha de cima, uma francesa que mora no Brasil há décadas. Ela mora no apartamento há pelo menos o dobro da minha idade. O dela, com centenas de metros quadrados, mais parece um deserto para uma só pessoa. Num vazio incômodo, o cheiro fortíssimo de caffe ocupa todo o espaço que lhe é possível. O meu, exatamente com o mesmo planejamento arquitetônico e de mesma simetria e disposições, é habitado por 3 pessoas, mas fazemos tanto barulho que alguns perguntam porque as minhas outras irmãs não saem de casa. "Não existem outras, somos só nós", respondo. Descendentes de italianos são assim. A consequência disso é o encurtamento de espaço. O ambiente é caótico. Nas festas de família, frequentemente os vizinhos convidam policiais para baterem as nossas portas - moradores de Copacabana são assim. Parece briga, mas a porta é aberta e, estamos nos abraçando.
Avec le temps...avec le temps va, tout s'en va... escuto aqui em baixo, a música que sai lá de cima.
Sometimes I hang my head, in shame. When people see me, they scandalize my name. I'm going down...
ela escuta lá em cima, a música que ecoa aqui de baixo.
Nos últimos anos não esqueci da Marion, mas o (na verdade, a falta de) tempo tem me impedido de reviver aquelas tardes imensas. Não só o tempo, mas a altura - que me impede de brincar de baixo da sua mesa da sala, as barbies esquecidas e o bom senso. Talvez a vergonha também. Como será a visão de lá de baixo, agora, com esses olhos maiores ainda?
Ontem fui visitá-la depois de alguns anos, com quebras de regime em encontros no elevador, no hall, e em todos os outros lugares que sempre se resumirão a tímidos tudo bens, seguidos de interrogações sem a certeza da resposta.
Quando fui ver Marion as paredes continuavam amareladamente iguais. Até hoje não sei se é esse mesmo o tom da cor, ou se o cheiro do caffe se materializa e faz dar a impressão de o branco ser encardido. Talvez o sofá fosse outro, já não lembro. Percebo a televisão ocupar o lugar de um quadro. Talvez Marion tenha dado prioridade ao barulho mudo da televisão, ao silêncio ensurdecedor de Renoir. Não sei se é a velhice. Talvez sim. Mas isso não importa. Marion ainda carrega o sotaque rasgado do francês, deve estar alguns centímetros mais baixa, com o mesmo sorriso de canto de boca, escondendo uma certa rigidez que não tem nada de carranca.
O caffe já começa a ser feito. Ali é lei. Lá em baixo, não temos televisão, e o café só é feito dia de semana, para manter a cafeína ativando o cérebro.
Aqui em cima, as fotografias fazem a presença de suas filhas que moram a milhas, enquanto lá em baixo temos o péssimo hábito de não revelá-las. Álbuns de fotografias só são feitos em datas comemorativas.
Encontro uma minha perdida, naquelas caixas com um cheiro que só o tempo pode dar, com as feições ingênuas que ele também há de tomar, recém chegada da praia, com a pele de uma cor que apenas o luxo de largar tudo agora poderia me dar, chupando a ponta do cabelo, com gosto de sal do mar.

Marion volta da cozinha, perguntando, alegre, a caffe? oui, oui?
Desconfio dos resquícios de francês em sua língua ser pura vaidade. Mas não é ruim, não tê-lo a descaracterizaria. Rio e respondo, si vous plâit madame, trés fort, tentando resgatar algumas frases que me ensinou, por demais esquecidas. Em meio as brincadeiras e as conversas, lembrei que quando pequena eu passeava pelos cômodos tateando as paredes, de olhos vendados, tentando descobrir o que estava em cada pedacinho da minha casa, no andar de baixo. Já sabia o percurso a ser seguido. Desviava do que era necessário, ia mais rápido em algumas partes, sempre tentando achar alguma semelhança em um espaço também vazio, ou mobiliado. O dela, no entanto, era sombriamente vazio, o meu, aconchegantemente cheio. Então, eu fazia livremente o contorno de todos os móveis da minha casa sem que estivessem ali, mas como se desenhados no chão. Não havia a possibilidade da colisão. Nossa maior diferença, de mesma metragem, separada por um teto.
Hoje percebi que ainda se mobiliassem exatamente do mesmo jeito, ainda faltaria algo e, nem mesmo se erguessem dezenas de paredes naquela casa, preencheria o vazio. Nada teria a ver com festas, televisões ligadas ou Ferré sussurrando no último volume. Faltava um tipo de presença ali.
Dessa vez não pude realizar minha função, exercida praticamente todos os dias, durante anos da minha infância com primos, amiguinhas e francesinhos malditos, les petit-enfants, o maravilhamento da identificação.
Não escuto mais Ferré nem Piath berrando lindamente pelas janelas de cima, e faz falta. Falta que me iguala a Marion. Tout s'énvanouit...
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Aqui, no andar de baixo, meu suspiro enche meus pulmões, sempre parecendo não darem conta.
Lá, no andar cima, Marion expele um certo vazio pela boca.
Aqui, o café passou a ser necessário pela função.
Lá, aprecia seu caffe, sentada em seu sofá, quiçá novo, observando as cenas passarem diante de seus olhos.
Lá, na sua espera, tem pressa.
No seu Atacama particular, tenta manter seu coração molhado pois, seus olhos permanecem ressequidos.
Aqui na minha pressa, somente espero.
No meu Oceano Atlântico tempestivo faço ventanias catastróficas, renasço em outras praias. Deliro a qualquer hora, deságuo por todos os cantos.
Na minha inundação particular, viro divisor de águas.

09/11/2010

Eu amo cavalos. Cavalos são seres abençoados, sendo puramente músculos e graça. Mesclando fúria com delicadeza. Suavidade com rapidez. Veludo com crina. Cavalos são abençoados pois, na colonização da américa espanhola assustaram os incas como sendo representações divinas.
Os andaluzes são referenciais no ballet, onde lambe-se o chão com a ponta das patinhas, nos igualando a éguas. pocotópocotópocotó. Cavalos são abençoados porque deixam serem montados, e montaria requer honra. Por isso não dão o lombo para qualquer um. Para montar, o cavaleiro tem que ter doçura, pedir licença, sem achar que vai surpreender chegando por trás. Com apenas um coice, mata-se. A rédea pode ser puxada com força, mas só se ele permitir. O galope requer entrega. Se ele não te derrubar, puxa de novo. Nada tem a ver com domínio, mas com entrelaço. A cada corrida fica melhor.
Cavalos são imaculados pois seus olhos refletem tudo o que está sendo visto. Não são como cordeiros que imploram o tempo todo salvação. Cavalos não precisam serem salvos, eles são a própria salvação. Os marinhos morrem de inveja e eu,

11/10/2010

da vontade de virar Shiva...

“As pessoas têm medo das mudanças. Eu tenho medo que as coisas nunca mudem.” (Chico Buarque)

Para que ter asas se você não possui janelas? Arranquei-as das costas, e agora corro tentando compensar a gravidade que me impede o vôo. Raízes brotam do chão tentando me prender, mas paro para cortá-las e logo retorno ao ritmo. Raízes mofam, e eu preciso de vigor. O grito da mudança estoura a minha garganta, e o timbre assusta os que preferem o repouso. Constantemente me percebo rouca.
O meu maior medo é sentir o corpo fatigado porque tem tanta coisa no mundo que move e que faz rolar, que quem se acostuma não constrói nem desmorona, somente espera. Não me prenda nunca pois, existem vozes que nunca ouvi, ares que nunca respirei e perfumes que nunca senti que, às vezes apenas dois braços não dão conta dos abraços.
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om namah shivaya.

27/09/2010

Havia um corredor. Criada numa casa enorme e com um quintal maior ainda, reuniões budistas eram feitas rigorosamente todos os domingos, mediadas pela própria avó. Mas havia um corredor e nele uma réplica que se confundia com a original. Monalisa imperava naquela parede imensa branca. Encostada na parede do corredor, ouvia atenta, com um certo medo e fascínio, as preces ditas em palavras indecifráveis. Observando todo aquele clima seriíssimo, queria muito entender. Por muitas vezes, seu olhar devia se equiparar com o de Monalisa. Curiosa, aos dez anos de idade não tinha altura nem intelecto para analisar toda aquela perspectiva inovadora do pintor italiano, mas recostava sobre a parede da frente e escorregava, até sentar no chão, enquanto ao fundo, ouvia mantras tibetanos. Ali, sonhava. Sabia, no entanto, que para chegar à sala de reuniões, o corredor fazia parte do caminho e daí sempre, absolutamente sempre, todos que passavam pelo quadro olhavam pra ele. Pediu gentilmente à avó uma parede emprestada para, infantilmente pintá-la. Budista, vó e com 10 netas mulheres permitiu, sem nem se preocupar com o que seria rabiscado nem com a cor. Mas além de tudo, esperta pois, a avó escolheu a parede mais recolhida, bem nos fundos do casarão, sem passagem nem corredor. Bastante distante da Monalisa e dos convidados. Mas ainda assim, era uma parede. A menina pintou os quatro cantos dela, e atraiu olhares - obviamente por motivos absolutamente opostos de Da Vinci, mas conseguiu o que queria e simplesmente adorou.

A avó não existe mais, consequentemente as reuniões também não, mas a casa sim. Essa, parece ter diminuído - ainda enorme, mas não faz mais tanto sentido. Aos 10 anos, para atravessar aquele corredor mágico com seus pés miúdos, deveria dar exatamente 50 passos. Hoje, a metade deles.
O quadro está intacto e, encara de frente aqueles olhos que sempre a acompanhavam. Afinal, Monalisa era a grande vigia do corredor. Percebeu que aquelas tardes foram uma espécie de berço para preencher cada lacuna que tinha dentro daquele peito e, expandir tantas outras.

Aos 11 anos, percebeu que quando pintava as capas das pastas de prova no colégio, as professoras não davam a devida atenção aquilo - o contrário dos praticantes de budismo na casa de sua avó. Ela queria ver devoção em suas funções. Se irritou com aquilo e um dia resolveu pintar uma capa toda de preto. Os sapos já impressos sumiram, o céu não estava padronizadamente azul nem as plantas coloridas. Aquilo sim chamou atenção e sua mãe foi rapidamente avisada. Em casa, perguntada sobre aquilo, riu, e disse que não era nada. Pelo contrário, era piada.
Aos 12, recortava dos jornais fotos impactantes e crônicas do Segundo Caderno - estava convicta de que iria ler aquilo algum dia. Encheu 3 gavetas do seu quarto.
Aos 13, era apaixonada por Cazuza e ouvindo suas músicas, acendia velas e tentava atrair alguma presença espiritual. Lendo e entendendo as intrínsecas linhas das músicas, numa chuva de códigos, notou que o cantor gostaria de ser - ou imaginava que já tinha sido, um índio. Certo dia chegou a passar colorau nas bochechas, em nome ao ritual.
Aos 14, gostava tanto da Alice do País das Maravilhas que pintou seus cabelos daquele branco platinado, e usava dois relógios em cada pulso.
Aos 15, com os cabelos já castanhos, percebeu que as meninas da sua idade os mantinham enormes, como uma espécie de cortina que lhe cobria os ombros e os sentimentos. O que antes lhe roçavam os rins, decidiu que seu pescoço deveria ficar à mostra.
Aos 16, quis virar poliglota e foi direto para a 2a língua mais difícil do mundo, aprendendo um alfabeto diferente.
Aos 17, foi em busca da consciência do corpo, e se matriculou em aulas de expressão corporal. Ficava 20 minutos, de frente pra o espelho e de quatro, com mais 5 alunos, tentando controlar uma bolinha de tênis com a coluna vertebral. Dançava livremente, mas já não o fazia mais com os braços pro alto, como uma maluca. Se machucava muito por isso, o que lhe rendia diversos roxos espalhados pelo corpo.

Mas as pessoas são muito cruéis e ninguém sabia o que acontecia de verdade. Julgavam-na da pior maneira possível, de uma forma que lhes rendesse assunto até o final do dia:
Aos 11, foi avaliada como depressiva precocemente. A partir de avaliações psicológicas do desenho, decidiram que havia algo de errado com aquela garota obcecada pela obscuridade.
Aos 12, era considerada Transtornada Obsessiva, fascinada por guardar coisas inúteis.
Aos 13, a chamavam de macumbeira.
Aos 14, tinham certeza que usava drogas e, estava perdida na viagem de Carrol, provavelmente sem volta.
Aos 15, diziam que estava virando homem.
Aos 16, era tão anti-social que, não suficiente inutilizar sua língua materna, se isolava mais ainda com a desculpa de não ter com quem conversar em outro dialeto.
Aos 17, era presenteada com marcas pelos corpo depois de cair bêbada, louca de tanta cerveja.

Se essa menina existe mesmo, aos 18 anos é apaixonada por todas as cores e não cores; finalmente leu todas as crônicas guardadas e aprendeu com os grandes que existem outros mil; foi além do Cazuza e agora o blues, o jazz e a clássica também a colocam em transe; está deixando seus cabelos crescerem pois ama tanto a mudança que agora está experimentando uma nunca sentida antes: a lenta; possui algumas características masculinas sim, e dentre elas, desprezo pela inveja explícita feminina, e um par de sapatos Gucci; está ganhando seu acordo consigo mesma, pegando o diploma de mais um idioma - o que lhe aumenta a possibilidade da comunicação; e nunca suportou cerveja. Se mudou, de casa e de pele - o faz constantemente. Assustando os mais próximos, cria personagens até hoje. Para ela, é um alívio. Sempre rumo à lucidez, confirmou com experiências próprias que o inferno são mesmo os outros, e que, se os lobos correm dentro do seu peito e o trem descarrilhado está desgovernado em suas veias, que os deixe. Você é o único que poderá se machucar de fato com o perigo e com a paixão. O que dá no mesmo.
O importante é fazer vida em qualquer canto, até no que parece ser apenas um corredor.

16/09/2010

A dor física é a mais solitária de todas.
Há um relato de um amigo, que certa vez, a dor das pedras nos seus rins estava tomando uma proporção tão insuportável que, ao avistar uma piscina, pulou de roupa e tudo e, bebeu água até começar a vomitar. Num ataque súbito de loucura, não haveria desabafo, choro ou relato que transpusesse aos conhecidos o que se passava ali, dentro dele. Até enlouquecer. Seu ato transferiu perfeitamente o que ele sentia.
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A dor se torna mais ferina ainda quando você vai ao encontro dela. A dor consentida queima arde borbulha e parece rasgar ainda mais quando você permite o sofrimento.
Eu queria ser mais amena. Eu queria ser mais amena para não assolar meus pés com tanto amor e com tanta frequencia, com hora e lugar marcado.
Eu queria ser menos severa. Menos severa porque eu sei que o molde é necessário e, um fio de cabelo fora do lugar pode comprometer todo o treinamento, o trabalho, a espera, o espetáculo, a realização.
Eu queria ser menos exigente com a forma, porque, estou completamente fora dela e regredir enquanto só se avançava é demais pra mim. Eu preciso da forma. Nada tem a ver com fôrma ou formato. Essa forma pode ser igualada à força. Física.
Eu queria ser menos síncopes. Tencionar menos quando meus ouvidos se permeiam de absurdos.
Eu queria ser menos esquecida, e que a minha frequência alfa se sobressaísse menos sobre a minha beta.
Eu queria conseguir colocar menos açúcar no suco.
Mas eu queria ser mais também. Um paradoxo:
eu queria ser mais doce, pra não ser tão intoxicante com tanta facilidade.
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Ainda assim, tudo isso perde proporção perto do que me aterroriza.
Não sei se estou sofrendo um aborto ou se estou na fase de nidação, fase em que o óvulo se prende na parede do ovário.
Não sei se estou perdendo uma parte de mim ou se brevemente vou ter de lidar com a responsabilidade que é a cria.
Mas ideias não se abortam, apenas são deixadas pra trás, as vezes desmaiadas mas nunca mortas, sacrificadas por medo. Gerar é a premissa e colocar no mundo é o resultado de uma solução. Deixar a criança grudada na barra da saia é desonrá-la.
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Hoje vi uma borboleta saindo do casulo, mas ela saiu meio desfalecida porque parecia que uma parte dela tinha ficado lá. Lá dentro, grudada na casca. Até agora não sei o que exigiria uma força maior: sair de lá, ou desprender aquele seu pedacinho do casulo. Ainda assim, seria incálculável.
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Eu tenho Hálux Valgo, um osso proeminente que fica na parte interna do pé, bem próximo do dedão. Dentro dele há um líquido. Acontece que o meu pé ta todo zoado, meu líquido inflamado e bem vermelho e inchado. Não tenho tido bolhas nem calos nem rasgos e isso poderia ser um sonho, mas a minha prece ontem parece que não foi ouvida. "No pain no gain", mil vezes martelando na minha cabeça mas não deu. Pedi arregoperdão, e tirei as sapatilhas no meio da coreografia. Que Mozart me perdoe, mas não deu. Antes tivesse sangrado...com a poça nos pés já estou acostumada. Mas a dor era dentro. Solitária demais, forte demais. Impossível fazer entender. Antes que eu enlouquecesse como o amigo e atirasse aquele gesso camuflado de rosa no espelho, pedi licença e me retirei.
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A única coisa que sei é que a dor mais atroz é a de dentro.
Quantos passarão e passam ao meu lado, todos os dias, cheios de hemorragias internas e eu não sei?
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um pouco da dedicação bruta, mas que acima de tudo, love is the only reason:


09/09/2010

Troquei os olhos pelas mãos, o coração por algum sentido.
Troquei o hedonismo grotesco pela pulsatilla, reservado pros que choram junto com a música. Troquei as euforias libertinas pela minha sanidade quentinha. Troquei o suplício azucrinante pela indiferença dos quais fingem felicidade, cheios de falsos sorrisos. Troquei a minha furia por cinco pontes de sanfena, os meus medos por 3 cartelas de ranitidina por mês. Troquei minhas quedas nas notas do colégio por alguns parafusos no joelho. Troquei a literatura cáustica do Bukowski pela agonia da Clarice. Troquei a endorfina pela adrenalina. As taças espumantes revezo com chás fumegantes. Troquei todas as minhas descendências, orientais e europeias por partes deus-sabe-o-quê. Troquei minhas asas por uma janela enorme.
A fruta mordida pela fruta inteira.
Hoje, o âmago que apresento é liso, mas não troco o ar beato sem flores que carrego..Mas às vezes o ego grita e eu não resisto. E as velhas pérolas que abraçam meu pescoço, não me deixam escapar os enfermos fios de dúvida que pairam sobre a minha cabeça. Talvez sejam dos infernos mesmo.
Excelente.
A minha pele continua confortável, mas as pessoas continuam olhando.

30/08/2010

Há muito tempo eu escrevi no meu cérebro a palavra "liberdade" com uma linha de lã, com muitos nós que eu duvido muito que algum dia descosture. Mas há mais algum eu inventei de costurar no meu peito a palavra "impossibilidades" com uma linha bem fininha, e ela parece não aguentar mais, ameaçando arrebentar a cada batimento cardíaco. Isso que dá costurar o coração com linha vagabunda.
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Minhas mãos continuam geladas, mas eu voltei a suar pelas mãos. Penso em nós...e não desfaço-os. Embolo cada vez mais.
Te reverencio, de coroa e tudo, por isso.

25/08/2010

quando nós, mulheres, nascemos, assinamos um contrato com a natureza que nos comprometa a sermos para sempre como borboletas. enquanto os homens, como búfalos. o convívio dos dois, é necessariamente fértil. a borboleta transforma em serenidade aquela brutalidade que há na manada dos quadrúpedes, enquanto estes, ensinam a nós, borboletas, sermos mais imponentes e rudes. alguns, no entanto, preferem manter a distância ou simplesmente não notam a riqueza que há na troca. mas ainda assim, existem habilidades em que sempre uma espécie irá imperar sobre a outra. no âmbito da força, por exemplo, não existe a menor possibilidade de o bicho efêmero vencer o mamífero chifrudo. a não ser pela hipnose. porque você acha que a maioria dos monstros da literatura são inspirados em mulheres?










24/08/2010

hoje eu queria sair
sair e derrubar as folhas secas das árvores
deslizar pelos corpos e por uma multidão
queria bater gelado
no rosto dos que correm - sem música
gostaria de causar um vendaval
daqueles bem rápidos
que não fazem mal

mas me disseram que um dia
por pelo menos um dia,
todos nós poderemos vir a ser funestos.
me deram a notícia escrita
num pedaço de cetim
que poderei virar o umbigo de um furacão
derrubarei postes e causarei catástrofes
- triste seria o meu fim

mas eu ainda vou carregar muitas sementes
e aproveitar o que ainda me há de cortês
ficar rarefeita
e perto daquele que ensina
porque quero sair das bocas junto das palavras
que formam
e informam
essa é minha verdadeira sina

devo aproveitar tudo pois um dia, bem o sei,
poderei parar no norte do mundo
e petrificarei
junto das águas
o que mesmo serei?

eu gostaria de descansar sobre as mãos do baleiro,
acompanhar o dia inteiro um bombeiro,
encher o tórax de quem dança,
repousar sobre os ombros de uma criança,
ou ficar espalhada pelo chão mesmo
esperando o peso incalculável de quem cai
porque se arrisca
à esmo

mas a missão de hoje é fácil
terei de surgir na sua janela
e te descobrir.
sou feita de ar,
e uma vez que não posso ser presa
permaneço
corro
e cresço
dentro de tudo.

o meu maior medo? me perder em meu devaneio
como acontece com a maioria
dos que me rodeiam.

20/08/2010

meus olhos doem. às vezes chegam a arder.
aqui, no meu mundo imaginário, a colonização foi diferente. porque dou à minha imaginação a força de mil batalhões - há quem compare com a força de um olhar de uma criança, e aqui, neste mundo palpável, onde meus dedos dançam por entre as teclas de marfim de um piano, ou pelas plásticas de um computador, retrocedo e me uno aos índios, ainda sem a interferência dos homens brancos. a indumentária e o clima me entregam onde estou. os olhos rasgados não me julgam e não me olham pelo canto deles. sou um viajante, penso. e me permito com liberdade. ando por suas moradias, simplórias e ricas - aqui imperam as frutas, os chás, tudo o que naquele mundo - palpável, é mixaria, aqui é riqueza. me comunico com um deles, e a conversa flui naturalmente. nunca ouvi essa língua, percebo, mas eu sei utilizá-la. a linguagem é mesmo um instrumento. nada tem a ver com português, russo ou inglês, mas eu também a domino. eles sabem que sou passageira e trocam informações comigo, querem ouvir experiências de um outro mundo, aquele que está muito longe e que não vai existir pois já disse, no meu mundo a colonização foi diferente. me perguntam qual é a comida do meu mundo, e eu digo, "vamos ao supermercado comprá-la", e lhes explico, "não são todos que têm acesso", "como assim?", indagam apavorados, e eu digo que se deve ter pedaços de papel com algum valor - e lhes explico o que são papéis, e quais são os mais valiosos. os alimentos podres vão para os pobres - e lhes explico o que é ser pobre, "eles entram no mercado e pegam restos do chão", e eles dizem, "e estes não são seus irmãos?", e lhes digo que não, e o chefe da tribo me diz furioso que todos ali estão sob o cuidado de todos. mas eu digo para não se preocuparem por que estou convicta, a colonização vai ser diferente e, portanto, nada daquilo irá acontecer. mas eles não entendem e deixam pra lá.
sou um viajante e me reconheço no masculino porque o pronome é indefinido, e a última coisa que preciso agora é me definir.

vim até o século XIV para perceber que o homem vai no Japão que há na Disney e não percebe nada de diferente. "o que há de mais diferente é o que não se vê. o ar é outro", diria. seus olhos estão tão acostumados com a perfeição que as moedas podem comprar, que seus sentidos não têm mais valor. são apenas prejetores do que seus olhos vêem. o maior problema da humanidade. deus lhe dá olfato paladar e tato, mas a única coisa que o homem usa são as bocas escancaradas que prometem ouro e cédulas e cédulas e cédulas. pensam que podem comprar tudo, e podem, mas não a sensibilidade. por isso os turistas tiram fotos de tudo, de nem sabe o quê, de construções humanas ou não, para só apreciar depois, em conjunto, tudo o que não se viveu. porque o homem nasceu para viver em grupo.

por aqui, ainda não passaram cavalos nem homens famintos por trabalho escravo e pedras reluzentes. os poucos que me notam, não se escandalizam. sinto que faço parte deste cenário e que não uma intrusa como os que rondam o mundo a fim de relatarem o que foi visto em jantares de boas vindas e só. aqui não sou turista. não uso mapa nem dicas e dicas de lugares imperdíveis. estar aqui é imperdível. eu apenas caminho, meu faro é o meu melhor guia. meus olhos ainda ardem, mas já não doem. é só uma reação por tentar reter todos os lugares e símbolos e gestos e comportamentos e olhares. algo que no meu mundo, já não se experimenta. eu tenho dois olhos que querem reter o máximo de olhos possíveis. eu gosto de olho no olho. peço licença à minha imaginação, e agora é ela quem me permite. aqui, na minha viagem começo a pensar como será a colonização desse mundo - antes do mundo das fábricas e fábricas e fábricas e das lâmpadas. não faço piada, e em nenhum momento sorrio. carrego agora, o peso do mundo, da sua história, da formação de segmentos. agora estou no século XV no oeste dos EUA, e desembarcam aqui povos orientais. o choque é imediato. pessoas que nunca se misturaram com outras visivelmente diferentes que não falam a mesma língua e não tem nem mesmo a cor igual. no entanto, no primeiro momento, diferentemente da primeira colonização, naquela não inventada e que está apenas congelada e nada no mundo será capaz de mudar, na minha colonização, estes homens não procuram as diferenças mas as igualdades. têm dois olhos, uma boca, dois braços e cinco dedos em cada mão. andam, emitem sons, dormem e pensam. na minha colonização às avessas há muita troca. os asiáticos também têm adoração pela natureza, e cultuam mais de um deus. a cor da pele não importa, porque os índios já haviam observado que os pássaros rosas vivem com os azuis em harmonia e cantam todos os dias e começam logo quando acordam. o motivo de os terem levado ao extremo oeste daquele continente foi o que consideraram ser a alucinação de um menino de uma tribo da Indonésia. o menino tivera visões durante anos, e avisava que existiam "pessoas lá, lá", e apontava com o dedo para o nordeste asiático, querendo atravessar o mar. quiseram certificar, e depois de meses navegando, os homens chegaram "lá". relatos em pedra, os amarelos continuaram a busca. após a confirmação do dado dado pelo menino não alucinado, queriam provar e provar e provar. dali a alguns anos, os laços estariam cada vez mais estreitos. famílias ameríndias asiáticas iam se misturando e se combinando. numa marcha agora ao extremo leste, encontraram mais uma vez o mar -lá naquele mundo, o distante, a atual Nova York. os que marchavam pensaram ter dado passos pra trás e imaginaram suas origens depois daquelas águas. "pensarão ter chegado ao fim das buscas, pois como no início, verão o mesmo mar descrito, mas a descoberta do mundo ainda não acabou". os homens se surpreendiam com as confirmações das palavras do menino e continuavam a marchar. aqueles homens tinham uma missão, e iam surgindo cada vez mais tropas e vontades crescentes de conhecerem todos os filhos do mundo e tudo que a natureza tinha de oferecer. deveriam agora, ir em direção ao sul. o mais lúcido de todos os meninos que já existira no mundo relatara "ainda não estará no momento de sair da terra novamente. reúna sua família que está espalhada por todo este continente, de oeste a leste, antes que os outros saiam de suas terras, e pensem que o que está além está aquém, pois vocês saberão o momento de atravessar as águas". e souberam. no meu mundo, os encanamentos ainda são feitos de ouro e o petróleo não é capaz de gerar guerras. meu mundo é constituído por viajantes, e estes caminham na intuição, não têm nada a perder. nem posto, nem dinheiro nem valor. seguem por que querem, seguem por que precisam. e isso, não há nada no mundo que pague, e nenhuma mão que receba.

29/07/2010

sunshine all the time makes a desert ~ arab proverb

30/06/2010

na vida tudo é mesmo relativo.
um sopro no meio de um furacão não é nada
no coração
é tudo.

28/06/2010

sabe qual é meu maior sonho profundo? que existisse um aparelho com um botão que tivesse escrito "silêncio".
Apertaria antes que alguém começasse a querer arranjar confusão ainda de manhã, sol recém nascido, olhos ainda se abrindo
silêncio
antes que começasse a dar aquela sensação de que você não sabe absolutamente nada do mundo e do que ele é feito e como, dando vontade de parar tudo o que está fazendo, sentar no chão e recolher os joelhos
silêncio
antes que algum indivíduo terminasse uma frase que não faria sentido em lugar nenhum deste planeta, onde nenhuma lei federal permitiria que se fizesse o que foi dito
silêncio
antes que a dor termine, para que eu deixe ela arder em
silêncio

12/06/2010

Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou. Clarice.

11/06/2010

Anaïs Nin...

"Um homem jamais pode entender o tipo de solidão que uma mulher experimenta. Um homem se deita sobre o útero da mulher apenas para se fortalecer, ele se nutre desta fusão, se ergue e vai ao mundo, a seu trabalho, a sua batalha, sua arte. Ele não é solitário. Ele é ocupado. A memória de nadar no líquido aminótico lhe dá energia, completude. A mulher pode ser ocupada também, mas ela se sente vazia. Sensualidade para ela não é apenas uma onda de prazer em que ela se banhou, uma carga elétrica de prazer no contato com outra. Quando o homem se deita sobre o útero dela, ela é preenchida, cada ato de amor, ter o homem dentro dela, um ato de nascer e renascer, carregar uma criança e carregar um homem. Toda vez que o homem deita em seu útero se renova no desejo de agir, de ser. Mas para uma mulher, o climax não é o nascimento, mas o momento em que o homem descansa dentro dela."

10/06/2010

"eu sinto que a vida super exige de mim"
em resposta: "na verdade é voce quem super exige da vida"
calei-me.
às vezes, a saudade de uma cor sem nome, um maravilhamento (como da primeira vez em que subi num Louboutin), uma tristeza abrupta, no frio metafísico ou no climático, na falta de palavras, recém-saída do ballet, quando me vejo andando de costas quando todos andam de frente, ou numa vergonha arisca, erubece-me o rosto. tenho um sangue que circula, que não coagula. circula com uma rapidez ferina, em resposta ao meio. e ao meu âmago. ainda bem. que não pare tão cedo...

08/06/2010

tenho um coração que bate
e sofro todas as noites.
como eu poderia dormir meu deus, com esse barulho que me estronda bem no peito?

30/05/2010

Permeada por pensamentos incongruentes, não sabe que é neste mundo que vivem os humanos. Tenta entender tudo que ouve, que vê. Porque, na verdade, ninguém consegue paralisar uma cena para entender ela realmente. Um olhar, um abraço, um suspiro. Uma frase até.
Por isso que os filmes, os maravilhosos filmes podem ser analisados e refletidos. Na vida real a gente sai atropelando tudo, e muitas vezes não questionamos o real significado daquilo. Que aquele olhar era mais furioso do que parecia, ou que aquela frase não era para ter sido tão rude. No filme a gente pausa e pode falar dias e dias daquele franzido na testa, daquele sorriso. E o melhor, assisti-lo milhares de vezes. Mas aqui, do lado dos mortais não eternizados, as coisas vão acontecendo e só você pode falar do que se viu. Se não, vira inquérito, tribunal, duas versões, três, mil julgando de um outro ângulo. A câmera pode vir a ser outra, o tom mais nítido, para outros, menos. A fotografia maravilhosa, ou, para alguns, colorida demais. Aqui só existe um julgador, por que na verdade você está sozinho e, jamais poderá congelar cada minuto da sua vida para compreender de fato.

18/05/2010

sofro de uma sensibilidade absurda nos ouvidos.
muita gente falando de uma só vez me compromete o raciocínio,
não consigo ouvir o que não quero,
Só a Nina Simone eu escuto em um volume muito alto...
não sei se é frescura ou algo com sentido conotativo.
e ainda tem os erros, os fatais erros de português também me doem, mas os seus....esses eu não me preocupo.
os de concordância então...me delicio.

28/04/2010

“Terá que parecer tão silencioso que nos assustemos se alguém bater à porta”. Bocklin

23/03/2010

é com a cor das minhas unhas dos pés que alerto sobre o meu humor.
vermelhas sempre estão, portanto, sem perigo.
se estiverem bem clarinhas, quase que transparentes, não chegue perto.

02/03/2010

sou do tipo que o sinal só fecha quando já estou na pista do meio.
já falei pra não me esperar,

27/02/2010

se o "tempo" que Mário Quintana descreveu usa mesmo cadeira de rodas, ele está aqui, parado na minha sala bloqueando a minha porta.
faço acrobacia nas horas e tento escapar.
vou da aérea lira até o contorcionismo .

26/02/2010

"o homem é o lobo do homem", foi o que Thomas Hobbes afirmou no século XVII.
e continua o sendo. cada um suporta um monstro na sua estrutura mental, consequentemente física, no qual aprimoramos e inventamos cada vez mais formas de camuflá-lo.
para uns chega a ser um trabalho árduo, para outros, uma arte.

25/02/2010

"Fiquei 1h deitado no chão e concluí que a pior forma de vaidade é desejar reconhecimento pelos nossos sacrifícios."

daniel galera

24/02/2010

de manha

eu e meu vizinho temos uma coisa em comum.
saímos de casa todo dia juntos, no mesmo horário, de segunda a sexta.
o menino sempre entra rezando no elevador.
o motivo, acredito, é que levantar da cama antes do nascer do sol, faz com que ele prefira escovar os dentes em casa e rezar na rua.
antes das seis da manhã tem que rolar um improviso.

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21/02/2010

o sol não nasce o meu dia.
só depois de duas horas dele aqui, em nossas janelas, é que entendo que ele começou.
morar em apartamento é reconfortante por que, se eu acordar de madrugada com o barulho, é o vizinho. numa casa, seria fantasma. e lá iria eu, dormir com os olhos abertos.

07/01/2010

cirílico ou não
o alfabeto me pede pra ficar
e ainda me oferece uma xícara de chá .
em mim, a lucidez canta estourando a garganta.

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há anos essa frase me faz sentido
enquanto a báskara que deveria fazer...
sentido
A cena mais ridícula do mundo é alguém ficar olhando pro celular esperando uma ligação. Se inventaram o celular, foi exatamente para a humanidade se poupar de ficar colada ao aparelho esperando alguém telefonar. Alguém entende isso?
Sabe qual é meu maior sonho secreto?
não ins

05/01/2010

A mim, a beleza enlouquece em qualquer lugar que a encontre e cedo facilmente a doce violência com que me domina...
A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros. A única anormalidade é a incapacidade de amar.
Não vemos as coisas como elas são, mas como nós somos.
O único transformador, o único alquimista que muda tudo em ouro, é o amor.
O único antídoto contra a morte, a idade, a vida vulgar, é o amor.

a. nin