17/06/2011

Conto nos dedos vídeos que tenham conseguido filmar amor. O meu preferido, talvez para sempre será “American Beauty”, when the plastic bag dances in the wind for 15 minutes. Mas esta é apenas uma cena. Há muito tempo não assistia um filme inteiro retratado dessa forma. Coinciedência ou não, os dois últimos de gênero similar que tenha me deixado tão tensa e presa à história, foi com o mesmo ator - Ryan Gosling, em 'The Notebook', e em 'Blue Valentine', sendo formado por ele e pela maravilhosa Michelle Williams.

Ryan aparece por vezes, puro amor mas, por outras, exalando uma brutalidade grotesca. Nos intriga por não parecer possível tanto desperdício de carinho. Michelle contrapõe o cenário, aflorando uma sensibilidade digna de todos os prêmios do mundo. A cada cena um ascende mais que o outro, mas há um equilíbrio afinadíssimo. Há muito talento prometido ali. Longe de ousar fazer uma crítica ou referências ilustres a filmes/livros/atores, este é um filme que vale a pena ser comentado. Comentar só, porque falar sobre cinema é muito chato e desnecessário. Baftas e Oscars são uma tristeza sem fim. Sempre fica gente de fora e isso me atormenta. Então eu prefiro falar sobre o amor desse filme, que é preenchido apenas pela representatividade das cenas & imagens, diferentemente do também brilhante 'Closer-Perto Demais', de mesma linear e igualmente simples, mas construído puramente por diálogos & palavras. 'Eyes Wide Shut' também é um dos raros que chega a me perturbar.

A organização do roteiro me trouxe à memorabilia um livro muito amado, o “Mãos de Cavalo”, de Daniel Galera. O presente se confunde com o passado e, dessa forma, vai tentando nos orientar à realidade de fato. Nos impulsiona à direção contrária do que sonhamos por assistir a milhares de filmes sobre amor e acreditar nesta instituição ou mesmo naquele bobo, que pode acontecer em qualquer padaria a qualquer momento - o amor à primeira vista. Na verdade não importa muito a ordem dos fatos pois tudo já está mesmo perdido e, a gente percebe, desde as primeiras demonstrações da arruinada relação dos dois – tudo começa, claramente, quando Cindy não deixa suas crias (filha e marido) ciscarem a mesa como leopardos. Essa confusão temporal nos faz torcer pelo que se viveu. E sob essa perspectiva, me passava constantemente pela cabeça um texto da Lia Bock, que diz: “quando tudo parece estar perdido e o único caminho viável parece ser seguir a placa 'fim', nada melhor do que abrir a pasta de fotos. Lembrar daqueles momentos de sintonia e felicidade em que juramos ficar juntos pra sempre, se não renova, pelo menos nos enche de alguma coisa que não seja mágoa e tristeza.”

O filme inteiro é uma fortaleza pois mostra a construção e a ruína do sentimento dos dois. Todas as cenas do filme são de uma sensibilidade absurda e, daí o recado final que não há amor que resista. Nem filho nem promessas. “É impossível não amar o que fomos quando estávamos amando. É impossível não sorrir com o sorriso que demos quando, a dois, decidimos alugar aquele apartamento”.

Esta é uma história muito bonita, da descoberta do amor & afinidades, até o seu fim, repleta de submundos & resistência, resistência, resistência. Quando ele precisa dela, ela se fecha e esquiva. Quando ela tenta ajudar, ele a rejeita. A dados momentos, chegamos a odiar as atitudes dos dois porque eles são, basicamente, humanos. Seres que amam, erram, magoam e vivem. Nós, somos exímios expectadores.

É sufocante assistir de perto, o traçado da intimidade dos dois, o crescimento e o desgaste dos laços, até a ruptura total sem remenda nem nó possível. Torcemos para que o casamento acabe, mas pra que o amor se regenere. Torcemos pra que as brincadeiras de Dean voltem, pra que a meiguice e graça de Cindy se restabeleçam. Torcemos pra que aquela criança linda seja uma fonte de paz, mas não dá. Este é o perfil de um documentário, passa longe da ficção. É real e desolador demais. Pode ser o retrato de um casal que vimos discutir no carro, na casa ao lado ou quem sabe, futuramente, você.
Poucas vezes o cinema tem a oportunidade de tratar o que há de mais nevrálgico e avassalador num relacionamento com tamanha verdade & sensibilidade.




'American Beauty'


'Blue Valentine'


12/06/2011

Pierrot le fou - Jean-Luc Godard, 1965



Marianne: Look at the last page, there's a little poem about you. It's by me.
Ferdinard: Tender... and cruel... real... and surreal... terrifying... and funny nocturnal... and diurnal usual... and unusual handsome as anyone
Marianne: Pierrot le Fou !
Ferdinard: My name is Ferdinard. I have told you often enough. Christ almighty ! You bore me to death !