25/01/2011

Re-assisti "An Education" e, definitivamente, esse é um filme que vale pelo final. Jenny parece ser apenas mais uma menina, an doux fille, mas com todo seu conhecimento, consegue iluminar os seres embrutecidos que a cercam. A um certo momento, decide largar tudo por que ela sabe que a vida deve ser divertida, e não chata e entendiante como a própria diretora do seu colégio diz ser, a vida do estudante. Jenny quer engolir o mundo e enxergar as diversas cores que ele pode ter. Minhas linhas percorrem em paralelo, ou pelo menos percorreram. Nós duas tivemos que perder o chão para perceber que não, a vida que a gente quer não existe atalho e que, certas vezes, deverá ser insuportable. A minha história nada tem a ver com Paris ou com um homem de mau caráter, convicto de não ter nada a perder, tirando do outro. Faz consideravelmente parte da idade, querer abraçar tudo de todas as formas e esquecer tantas outras. Mas uns pulsam mais que os outros e pensam não ter saída, a não ser sair, au revoir, adieu, dasvidania, em todas as línguas. Aqui não tem nada para nós, não é cherrie? Mas eu simplesmente resolvi jogar tudo pro alto um pouco antes, quando ainda não tinha noção de francês, mas apreciava o quadro do Renoir que tinha o dobro do meu tamanho na sala de casa porque eu queria ser uma daquelas garotas - a sentada no piano, porque eu ia aprender a tocar piano, e dizia exatamente como Jenny, infantilmente como Jenny que, quando eu passasse para a faculdade, iria ler o que quisesse, ouvir o que quisesse, e finalmente ser quem eu quisesse. Criticávamos o método antiquado, mas o que pôr no lugar? Tínhamos vontade de alargar o uniforme e deformar a medida, mas o que usar no lugar? Nós estávamos erradas por que a vida que a gente quer não tem atalho, rappele mon ami? Oui, ela sussurra em meu ouvido. Então nós temos que correr mais do que qualquer um, porque nós rasgamos e jogamos no lixo a parte chata da vida – consideravelmente uma das mais importantes também. Porque nós achávamos que a educação que se aprende nos livros é muito mais rica da que a que o colégio passava. Era divertido ninguém acreditar na idade que eu tinha com um certo refinamento que muitas vezes me isolava.

Em uma das últimas cenas do filme, o Mrs Moller explica o porque de ter sido sempre tão rude com a moça. "I always lived afraid", he said. A cena ficou muito bonita, mas porque esperar tanto Mrs Moller, para falar apenas essa frase que pesa mais do que uma bigorna? A razão é óbvia, mas às vezes, quando parece que você tem a escolha de dois mundos absolutamente distintos e se ainda é muito nova, você definitivamente não quer um mundo très ennui. Diferentemente dos meus pais - que nunca tentaram justificar minhas defasagens na escola por uma falta de atenção exacerbada, sempre souberam que o que eu não tinha era juízo, jamais me insultaram pelas notas ruins no boletim. Eles sabiam que isso não resolveria nada.

O filme vale pelo final porque a vontade de desligar o filme é grande, enquanto a gente percebe que o brut a domina, mas seria fácil demais. Eu sabia que Jenny superaria porque ela aprendeu com os grandes. Sua educação foi retirada acima de tudo, das artes. Esse tipo de educação não se força o outro a querer, e o bom gosto não se aprende nas escolas: vem de dentro. E é essa força que vem de dentro que ainda me move. Me faz querer aprender, resgatar o tempo perdido cheio de chatice e tédio. Alguns sofrem desde muito cedo para ficarem no topo de listas, na frente de milhares de nomes. Topos que lhe concebem vagas honrosas em disputados colégios e faculdades por demais conceituadas. Que bom. Que bom porque os grandes cientistas e os maravilhosos engenheiros e os incríveis advogados não suportariam a espera dos que abandonaram tudo porque decidiram trocar a matemática pela música e a química pelos escritores amargurados. Eles precisam ser substituídos a altura.

Dispensável de comentários é a cena em que Jenny dança com Danny. Que sintonia linda. É tão bonito aquilo que, se eu fosse Lone Scherfig, esquivaria a Helen. Excuse, ami.

I suppose you think I’m a ruined woman”, Jenny fala com uma pessoa très savoir, levando em consideração a época em que a história se passa. A dona da resposta tenta ser pontiaguda, mas não consegue: “You’re not a woman”. A frase não chega a ter a força de uma agulha que perfura o dedo porque ela passou por une folie, fut juste un petit fille émerveiller. Mas não mais, porque Jenny fez parte de uma lista daquelas listas presque impossibles e entrou para uma das melhores universidades do mundo e quer crescer. Também me sinto velha, petit J, mas também não me sinto muito sábia porque se me permite, parafraseando David, o copo que nós queremos encher parece não ter fundo, e ainda que tivesse, todas as vezes que terminássemos de beber, o bateríamos na mesa com tanta força que, seria explícito o quanto gostaríamos de mais mais e mais. Portanto, a única certeza disso tudo é que na vida, a gente tem que fazer as coisas com devoção, porque isso "that's not half the battle, that's the whole war". Seja ouvir o dia inteiro Jacques Brel e os tantos outros maravilhosos, play the cello, ir a lugares incríveis ou ler ler e ler, para só depois dar valor ao que somos predestinados. Coisas que muitos têm como adquirir, mas a maioria nem chega perto.

No fundo, todos devem ter algo para ensinar ao outro. Seja retirando de revistas, jornais ou receitas. Helen consegue encarnar bem esse papel, ressaltando a beleza da garota que a cada cena aparece com mais amour, de franja, olhos rasgadinhos. Mas acima de tudo, nós não precisamos de homme serieux nem de sermos levadas pelo braço para os lugares, como David faz questão de falar diversas vezes o quanto o fez com a petit. Nós queremos nos guiar apenas com a vontade que temos de aprender, no faro, sempre em frente, sempre para frente, olhando para os lados e um pouquinho para trás. Enfim, não cheguei a largar o colégio ou ser algemada. Eu apenas violei uma história num livro de capa bem dura com dezenas de narradores externos, que é premeditada para cada um de nós ainda bem pequenos, para tentar escrever minha história com minhas próprias mãos. Retomo mais um início.