12/04/2011

A professora de antropologia faz referência a simbologias que estamos, definitivamente, presos. Códigos nos conectam involuntariamente, e nos permitem afastar as mãos maior sinal de repugnância do Ocidente, ou aproximá-las - maior sinal de gentileza do Ocidente. É a inevitável análise do massacre, pois massacrados também estamos sendo, ou do acolhimento, não sendo necessariamente algo gentil, mas para fins de interesses.

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Bestializo os signos dessa cidade, passo os olhos e assisto, mas não vejo. Uma menina estende o braço direito e o dedo indicador, para fazer uma espécie de sinal, na expectativa de que o transporte pare para ela adentrá-lo. E ela consegue; um grupo de pessoas ainda bebe álcool em um bar, ás 6 da manhã de uma terça-feira; uma mão leve recosta sobre meu ombro. Levo um susto. Gentilezas têm recebido esse tipo de reação...

Não tenho vontade de compreender essa corrente interminável de símbolos, pois eu só preciso ir.

Estou há mais de uma hora tentando chegar no lugar, na promessa do saber e simplesmente não quero pensar em nada. Avisto o templo, ostentando um imponente sinal em seu topo. Finalmente chego e quase não acredito. Me restam 15 minutos de recomposição para entrar lá. Pressa antes das 7 não funciona.

Ao pisar na sala, os sinais de transmissão se curvam em minha direção. São cabeças, sem necessariamente alguma coisa dentro delas, mas que possuem um conjunto de mecanismos de receitas, regras e instruções. São obedientes, e geralmente as balançam quando concordam com alguma transmissão. Sorrio e expurgo o meu desejo de um bom dia. Todos compreendem. Meus condutores de informação enviam e recebem.

Que bom. Isso é normal e um sinal de que tudo está bem. Até eu avistar uma das piores coisas em vida: sinais bloqueados. A menina com seus sinais e cabos de transmissão decapitados. Ela não é muda nem surda. Apenas não há troca. Gesticula, abre a boca e tenta emitir qualquer coisa e, nada sai. Não escreve não relata não sente. A personificação da mesa ambulante. Uma mesa que fica em pé e anda. Prática e óbvia. Terrivelmente óbvia.

Uma mesa me incomoda. Me incomoda mas, compreensivelmente, não possui nenhuma cadeira à sua volta. Sua praticidade não serve de apoio, nem para copos ou punhos. Coitada da mesa. Lá vai ela, à procura de qualquer coisa. Certamente encontrará seu grupo, pois eles estão sempre em bando.