06/02/2012


Faz muito tempo que não consigo não acabar achando todas as pessoas que venho a conhecer, tão desinteressantes. O problema em ler livros é ficar mal acostumada com diálogos naturalmente incríveis. Mas com a educação que me conceberam, me permiti prestar uma atenção diferente em cada razão, deficiência ou qualidade dos que me rodeiam. Tento me colocar totalmente contemplativa e sem julgamentos diante dos retalhos que me apresentam, principalmente quando disseco as partes. Mas o mais difícil, é conseguir ser tolerante a situações de caráter duvidoso ou arrogância. Ainda não tenho a capacidade de lidar com absoluta frieza quando alguém deseja o mal. Sempre me pergunto se a pessoa percebe o que está desejando ou se o faz inconscientemente. Não sei o que é pior mas, para amenizar o sentimento nessa situação, relembro de uma história que minha mãe contou quando eu era ainda muito nova.

Há a história sobre uma Marquesa. Uma mulher que continha nela todos os atrativos para que a quisessem mal. Ainda menina, foi levada por um homem da corte e mantida em cárcere como sua amante. Quando conseguiu fugir, foi marginalizada por todos da cidade. Porque como a sociedade é injusta, além de causar inveja nas mulheres por sua beleza, viam o sequestro de maneira inversa. Julgavam-na culpada por seduzir um homem mais velho e viver com ele de forma profana. Até que a Marquesa se rebelou e fez a escolha de não se envolver institucionalmente com homem algum, ao contrário; seria uma amante livremente (do verbo "amar", não tendo nada a ver com "traição").
Um dia, a Marquesa fez uma grande festa em sua casa, e convidou todos os habitantes da pequena cidade. Todos os homens compareceram, mas a grande maioria das mulheres, não. No meio da festa, um lacaio trouxe uma caixa enviada pelas mulheres ausentes, especialmente para a anfitriã. A Marquesa abriu o presente, em meio a todos os convidados muito curiosos, e o choque foi de todos: a caixa estava cheia de bosta de cavalo, uma atitude pensada para denegri-la e feri-la em sua própria casa.
Na primeira oportunidade em que houvesse uma reunião entre as mulheres ausentes, a Marquesa também mandaria entregar uma caixa de presente por meio do lacaio. Dizem, inclusive, que as mulheres da cidade se reuniram para rir do escândalo que haviam feito. E foi nessa ocasião em que o troco seria perfeito. Quando o mesmo lacaio entrou no salão carregando uma caixa maior e ainda mais pesada, a patroa abriu. Era um maravilhoso arranjo com flores colhidas e ornamentadas pessoalmente. Junto, trazia um bilhete, de punho da própria Marquesa, que dizia: "A gente dá o que tem".